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  • Foto do escritorEdneide Assis Amaral/Edi

O Planejamento em Arteterapia

O atendimento em Arteterapia visa a elaboração de atividades/vivências que possibilitem a expressão do sujeito, dessa forma, se faz necessária uma pesquisa sobre quais materiais, técnicas e diálogos englobar. Ainda que trabalhemos de forma mais livre possível, precisamos saber o que estamos oferecendo como ponte, pois nossa referência será sempre a pessoa que estamos atendendo e não nossas habilidades artísticas.


A escolha deve possibilitar a execução da atividade/vivência através de suporte e orientação, bem como, do conhecimento acerca do manejo do material escolhido pelo arteterapeuta. O conhecimento dos materiais e técnicas se faz através de uma pesquisa e de experimentação. Para que possamos saber o que podemos extrair de um material , precisamos vivenciá-lo nós mesmos. Seguindo o princípio de que, não posso oferecer nada que eu mesma não consiga lidar ou conduzir adequadamente. Se pretendo guiar alguém ao longo desse processo, preciso ser capaz de percorrê-lo.


No sentido de conhecer materiais e técnicas, podemos buscar orientação em livros, pesquisas de artistas, arteterapeutas e/ou arte educadores. Adequar os materiais e técnicas a uma proposta terapêutica é outra etapa, e a mais importante. Nessa etapa as perguntas que devemos fazer são: o que esse material mobiliza emocionalmente?, quais são as propriedades dele?, quais as construções que ele permite terapeuticamente?, como posso viabilizar o processo sem que o paciente se sinta desconfortável com o material?


Não objetivamos a técnica pela técnica, e nem que a mesma nos distraia do processo e nem que ela esconda nossas insuficiencias em lidar com o que propomos e com as questoes do paciente. A técnica não deve ser a protagonista, mas sim o que ela traz de conteúdo expresso pelo paciente, em outras palavras, é o que ela constrói e mobiliza no paciente é que nos interessa.


Um dos aspectos profundos que a arte nos dá é a condição de experimentar e construir caminhos com liberdade e multiplicidade. Ainda que o profissional não seja da área de artes, ele pode sentir-se à vontade para construir propostas à partir de suas experiências com os materiais e técnicas e confiar em suas pesquisas e critérios que se aprofundam atarvés de seus estudos.


Em termos práticos um roteiro hipotético do planejamento de atendimento em arteterapia se divide em:

  1. Demanda do paciente e em que etapa do processo ele está

  2. Materiais e técnicas que dialogam com a demanda do paciente e o que pretendemos mobilizar nele

  3. Experimentar a proposta e organizá-la em etapas, ex. como arrumar os materiais, apresentação da proposta para o paciente. Essa parte engloba pensar como iremos oferecer a atividade para o paciente e como ele poderá trabalhar/lidar com o material. Explicações como: a tinta é base de água, poderá ser misturada, pode ser trabalhada com pincel ou com o dedo, etc. Reforçando que precisamos ter isso claro antes para que no atendimento não nos atrapalhemos.

  4. Etapas: Acolhimento, aquecimento (opcional e pode ser um relaxamento, respiração consciente, alongamento ou o que julgar adequado), apresentação dos materiais, oferecimento da proposta, execução da proposta (nessa etapa iremos fazer uma estimativa de tempo que o paciente tem para trabalhar e comunicaremos isso à ele), finalização, observação do que foi produzido e verbalização, acaso o paciente queira falar.

Jung propõe quatro etapas para o processo terapêutico: a confissão, o esclarecimento, a educação e a transformação. (fonte: Jung - A Prática da Psicoterapia)




Essas etapas independem da proposta a ser trabalhada: se for colagem, tinta, mosaico, argila, trabalhar com vivências corporais,etc. O que devemos manter é uma postura flexível para a necessidade de mudanças ao longo do atendimento e adequações às necessidades do paciente e de possíveis bloqueios por parte do mesmo. Talvez tenhamos até mesmo que desistir de todo o planejamento para acolher uma demanda que se faz mais urgente. Por essa razão é sempre bom ter materiais simples à mão como papel e lápis de cor, para condições menos diretivas, mas que possibilitem que o paciente possa expressar-se por outros meios.


É importante que confiemos no que estamos construindo, pois lembremos que muitas das pessoas que atendemos têm um forte julgamento sobre suas aptidões e sempre irão nos dizer que não sabem desenhar, que não são boas com isso e precisarão de uma boa dose de incentivo para começar, ainda que digamos à elas que ter aptidão não está em jogo. Quando o paciente sente que estamos inseguros quanto ao que oferecemos, inclusive tecnicamente, ele se perde junto e fica igualmente confuso e inseguro.


Saliento que você confie não só em conhecimento técnico, mas na sua sensibilidade e intuição. Respeite sua prática terapêutica e sua identidade. No começo, me sentia um pouco à margem dos atendimentos em arteterapia, pois percebia que a minha condução era um pouco diferente. Mais tarde, vivenciando meus processos e agregando conhecimento e conversando com pessoas qualificadas, vi que a maneira como atendemos fala de nós. Como Jung disse, não é possível atender desconsiderando quem somos e a forma como fazemos as coisas. Não posso atender de forma cindida. Tudo o que sou, e o que ainda não sou está incluso nas propostas que construo.




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